sábado, 22 de janeiro de 2011

All Star

"Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu,
seu all star azul combina com o meu preto de cano alto.
Se o homem já pisou na lua, como ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas para tua voz parece exato..."




Nós somos velhos amigos. Ou éramos.
Vários acidentes de percurso. Vc se mudou pra Espanha, se casou com uma argentina e, por causa de um acidente de carro, foi morar em Cuba. E eu não tenho seu endereço. Assim como a música.
Em uma época de endereços eletrônicos, nunca achei que isso fosse necessário. Até porque me falta muita coisa pra chegar ao seu novo endereço - afinal, é em Cuba.
Mas eu me lembro de vc todos os dias da minha vida. Dos seus longos braços e pernas, do seu tórax magro, das suas calças jeans apertadas, das suas tatuagens, do seu cabelo preto, do seu all star.
Lembro da nossa primeira festa ao nos reencontrarmos já adultos. Lembro da última festa. Lembro da festa em que me surpreendeu de bermuda e chinelo. Até então, achava que, se tirassem seus jeans e seu all star, a pele sairia junto.
Lembro das conversas no nosso "Tosco Bar". Lembro do copo sujo e do garçom que eu achava bonitinho. Lembro de vc correr pra casa pq sua noiva o esperava no msn. E lembro da solidão que sentia quando isso acontecia e a noite, enfim, acabava.
Lembro de todas suas ligações internacionais. Daquelas em que me pedia pra tentar achar algo no seu quarto e mandar por sedex. Daquela em que, morta de saudades, declarei que largava tudo pra morar em Buenos Aires perto de ti.
Mas há muito as conversas no bar, as ligações internacionais e as festas de all star não fazem mais parte do meu dia a dia. Tampouco as passadas de mão nos meus cabelos antes de dormir, o aconchego no colchão ao lado da sua cama, o chocolate quente nas noites frias. Aliás, o "Tosco bar" não existe mais, virou uma floricultura. O colchão também foi jogado fora, em algum ataque de feng shui da sua tia.
Mas lembrar de vc todos os dias é algo comum como lembrar de escovar os dentes ou tomar banho.
Mas lembranças não devem nos servir de sofá, mas de trampolim. E assim minha vida continuou.

E pq o desabafo de hj? Pq eu amo os meus amigos. Desde vc. Vc me fez entender o que era, até então, incompreensível: como podemos amar alguém que não tem laços de sangue conosco? Vc apareceu do nada, sabendo pouco de mim e hj sabe o q cada suspiro meu representa.
Vc e outras pessoas. A diferença é que essas outras pessoas me magoam. E aí, tudo volta ao início e eu sinto a dor de ter te perdido. Mais uma vez.

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